12 abril, 2013

O conteúdo do cristianismo

Robinson Cavalcanti

O que tem sido o cristianismo em sua história? Não uma seita judaica, mas a realização do que foi preconizado pelo judaísmo, povo da primeira aliança, com um monoteísmo e uma ética de revelação. O Messias anunciado pelos profetas finalmente chega. Tudo isso não poderia ter se acabado em pouco tempo? Surge a Igreja, povo da segunda aliança, com destinação universal: fazer discípulos em todas as nações. Para se expandir tão rapidamente o cristianismo tinha de ser portador de um conteúdo, que chamamos de doutrina, definido nos Credos Apostólico e Niceno, em relação aos divergentes, de fora e de dentro: 1) a Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo; 2) as duas naturezas de Cristo: divina e humana; 3) a concepção virginal; 4) a morte vicária; 5) a ressurreição; 6) a segunda vinda com o Juízo Final; 7) a ressurreição dos mortos e a vida eterna; 8) a Igreja; 9) o batismo. Milhares foram queimados vivos, trucidados pelos gladiadores, estraçalhados pelos leões, pela crença inabalável nessas verdades.

Antes de serem definidas no papel, essas doutrinas já eram cridas e compartilhadas pela comunidade de fé, transmitidas como herança apostólica, com a identificação simbólica da cruz, do pão e do peixe, do alfa e do ômega, na partilha do pão e do vinho, em que a Eucaristia (ação de graças) substitui a Páscoa, porque o Cordeiro já fora imolado. Na adoração, nos cânticos, na Ceia do Senhor, se estabelece a liturgia.

O mais importante é a igreja

Robinson Cavalcanti

A Igreja é o que de mais importante existe no mundo. Criada pela vontade de Cristo, ela é a agência da salvação, ensaio e vanguarda da nova humanidade. Deus havia chamado Israel (obediente “versus” desobediente), e no passado nos falou pelos profetas, guardiões da lei. A função e o “status” de Israel -- a antiga aliança -- cessaram quando o véu do templo se rasgou. Hoje o judaísmo e o islamismo são apenas religiões semíticas monoteístas. A Igreja é o novo Israel, a nova aliança, e, como nos ensina Pedro, herdeira dos títulos e atributos do primeiro Israel: geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de Deus. Entre o antigo e o atual Estado secular de Israel (formado por 90% de ateus e agnósticos) só há em comum a geografia e as mirabolantes teorias de alguns protestantes. Os judeus (e todos os povos) devem ser enxertados no novo povo, porque não há salvação em nenhum outro nome senão o de Jesus.

A crise da Igreja é resultado da sua baixa autoestima, da falta de autocompreensão e conhecimento não somente sobre sua missão, mas também sobre sua natureza e organização -- uma crise de identidade em razão de uma ruptura com sua história, suas raízes. Como povo-instituição de Deus, a Igreja é mais importante do que a família biológica ou adotiva, do que o mundo do trabalho e do lazer, do que o Estado ou qualquer expressão da sociedade civil. Ela é portadora única do sentido para as demais coisas -- o evangelho e o poder do Espírito Santo -- e é nela onde se convive não somente para o tempo, mas para a eternidade. A Igreja não é apenas suas expressões localizadas: as comunidades locais, as tabas religiosas com seus caciques ou as casas de shows para expressão das fogueiras da vaidade. A igreja vive hoje em pecado porque desobedece aos dois princípios basilares a ela destinados pelo seu fundador e Senhor: a unidade e a verdade. O cisma (divisão do corpo) deixou de ser considerado um grave pecado pelo desordenado denominacionalismo; a heresia deixou de ser considerado um grave pecado pela crescente e ilimitada “diversidade” e “inclusividade”. Os cismas são heresias, e as heresias são cismas. Essa tragédia se transformou em rotina ante a indiferença de todos.

“Denominação” é uma palavra que não se encontra nas Sagradas Escrituras nem na obra de nenhum autor relevante da história do pensamento cristão antes do século 18. Não é um termo teológico, eclesiológico, mas apenas sociológico, administrativo, jurídico, humano, corrente nos últimos duzentos anos a partir da realidade da “livre empresa” e do “‘self-service’ religioso” norte-americano. Quando a Igreja una, santa, católica, apostólica e reformada dá lugar a uma miríade de “denominações” ou “ministérios”, o evangelho é parcializado, a missão é mutilada e vivemos na carne, por mais piedoso e espiritualizado que seja o nosso discurso. Afirmar que “Deus me mandou criar um novo ministério” é uma blasfêmia.

A Reforma Protestante foi um dos capítulos mais importantes da história da Igreja, mas o seu desdobramento em correntes extremadas fez com que o bebê fosse jogado fora junto com a água do banho. Ela preocupou-se com a autoridade (das Escrituras) e com a salvação (pela graça mediante a fé em Jesus) e se descuidou da eclesiologia, do estudo da própria Igreja. A instituição que deveria garantir a preservação dessas verdades logo foi atropelada pelo racionalismo liberal ou pelo literalismo fundamentalista. O livre exame, de livre acesso e investigação, deu lugar à livre conclusão. Ao contrário da criação, a Igreja se tornou sem forma e vazia. A releitura das Escrituras pela burguesia europeia, 1600 anos depois, fez os congregacionais tomarem o embrião e os presbiterianos tomarem o feto como se já fosse o ser nascido (institucionalizado) -- fato que a história atesta ter acontecido (muito cedo) somente com a consolidação do episcopado. Por sua vez, a pretensão da Igreja de Roma (e de alguns ramos da ortodoxia oriental) de ser “a” Igreja, em uma visão monocêntrica da história, não faz justiça à verdade policêntrica das sés e dos patriarcados deixados pelos apóstolos em diversas regiões. Foi no Oriente que viveu a maioria dos Pais da Igreja e onde aconteceram todos os Concílios da Igreja indivisa (responsáveis pelo consenso dos fiéis); ainda assim, 1.200 anos de história da Igreja no Oriente (períodos bizantino, pré-calcedônio, pré-efesiano ou uniata) representam apenas algumas notas de rodapé ou algumas linhas nas obras dos historiadores católicos romanos ou protestantes (“anabatistizados”). Ficamos vulneráveis com essa lacuna, em uma época de desprezo pelo passado e de arrogância individualista e imediatista. A universalidade da Igreja, com a multiforme manifestação da graça de Deus em todo o mundo, é mutilada pela hipervalorização (quase exclusiva) do que nos vem do império do momento. Como foi mesmo a definição do cânon bíblico, das doutrinas dos credos, dos sacramentos e do governo episcopal?

Fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/317/o-mais-importante-e-a-igreja

Bonhoeffer, a graça barata e o evangelho da prosperidade

Alexander Cabezas Mora 

Há 68 anos (no dia 09 de abril de 1945) morria Dietrich Bonhoeffer, pastor e teólogo da Igreja Luterana da Alemanha. Este erudito, ordenado e doutorado aos 21 anos, autor de vários livros, é conhecido por sua coragem e seu compromisso cristão. Quando a Igreja Católica guardou silêncio e igrejas cristãs protestantes mantiveram-se à margem, com a desculpa de "neutralidade" diante do tirano e despótico regime que pretendia levantar Hitler, Bonhoeffer foi coerente com seu discurso e levantou sua voz.

Ele teve a oportunidade de ficar nos Estados Unidos em meio aos alvores que prognosticavam uma guerra mundial. No entanto, preferiu voltar ao seu país para cuidar do rebanho que Deus lhe havia entregue. Tinha sob sua responsabilidade um seminário que depois foi fechado pela Gestapo. Foi proibido de falar e ensinar mas, obedecendo ao seu chamado, continuou seu trabalho clandestinamente.

Acusado de cúmplice no plano para matar Hitler, Bonhoeffer foi preso e passou seus dois últimos anos de vida em uma prisão de Berlim, aguardando sentença final. Ali se dedicou a escrever vários de seus livros, que são conhecidos até hoje. Entre eles, "O Custo do Discipulado"1, uma joia da literatura cristã, que faz uma exposição à luz do Sermão do Monte (Mateus 5). 

Seu argumento era pôr em evidência o que significa professar uma fé abstrata, legalista e desencarnada do verdadeiro compromisso e da transformação que Jesus exige como o coração do Reino de Deus para os seus seguidores. Uma fé que não toca a alma nem a consciência, um cristianismo sem Cristo e sem cruz é uma fé estéril, inútil e vazia porque, ao final, não é sustentável. A isto Bonhoeffer chamou de “a graça barata”.

" A graça barata é a pregação do perdão sem arrependimento, é o batismo sem a disciplina de uma congregação, é a Ceia do Senhor sem confissão dos pecados, é a absolvição sem confissão pessoal. A graça barata é a graça sem discipulado, a graça sem a cruz, a graça sem Jesus Cristo vivo, encarnado”.

73 anos depois do pastor Bonhoeffer ter escrito estas palavras em um contexto de tribulação por defender sua posição, é triste reconhecer que hoje alguns setores trilham o mesmo caminho que visa baratear a fé.

A fé se torna barata quando é oferecida como um produto de consumo para satisfazer as massas que buscam uma mensagem que se encaixe aos seus desejos pessoais. Quando é oferecida como espetáculo para um público que deseja que se adoce os ouvidos e se prometa estabilidade para seu "status quo". Quando se defende a identidade de ser filho ou filha de Deus como uma garantia para reivindicar as promessas materiais em troca de uma módica soma ou transação monetária a que alguns chamam de “lei da semeadura e da colheita” ou “pacto com Deus”.

Recentemente um tele-evangelista latino-americano ensinou (se é que se pode chamar de ensino) que devemos reclamar a Deus por qualquer necessidade material existente e pedir o "carro dos nossos sonhos como um direito adquirido por sermos seus filhos”.
Em seus trinta minutos de exposição, em nenhum momento ele fez menção a outros elementos presentes na mensagem apostólica, tais como a justiça, a responsabilidade, a obediência, o arrependimento e o seguimento como parte integral do discipulado que Jesus viveu, encarnou e buscou.

Os promotores dessas correntes correm perigo de ensinar falsos ensinamentos e, assim, reduzir a mensagem a “migalhas espirituais”. Bonhoeffer tinha razão ao afirmar que "a graça barata é o inimigo mortal da igreja".

A última conferência mundial sobre evangelização “Lausanne 3”, celebrada na Cidade do Cabo, África do Sul, se pronunciou contra a má interpretação bíblica e até a manipulação que se tem feito para alimentar o materialismo. Um dos oradores mencionou, em seu discurso intitulado "Deus promete abençoar o seu povo," que o evangelho da prosperidade distorce o conceito de bênção quando a reconhece apenas no sentido material.

Outros preletores também comentaram o problema:

“Nós não podemos usar a opção de comprar a graça de Deus, e isso é o que faz o evangelho da prosperidade”. 

“Dar é parte da nossa adoração, mas o evangelho da prosperidade faz com que o dar seja uma atividade de barganha”.

“Aos crentes é ensinado que quando fazem uma oferta a Deus podem esperar uma rentabilidade determinada. Mas Deus abençoa de acordo com a sua sabedoria, e não necessariamente com riqueza material”.

Como crentes, não podemos permanecer calados diante desses falsos ensinos que continuam a permear a igreja e prejudicam a fé. Mas o mais preocupante é que eles continuam a arrastar milhares de seguidores para beber dessas águas turvas e ilusórias. E ainda mais perturbador é que eles estão deixando para as futuras gerações um legado de discipulado que em nada reflete o coração do Reino.

Bonhoeffer não se calou porque reconheceu que seu dever como um discípulo do Senhor era falar. Deus espera algo menos de cada um de nós, hoje?

Nota:
1. Publicado no Brasil pela Editora Sinodal, com o título “Discipulado”.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/bonhoeffer-a-graca-barata-e-o-evangelho-da-prosperidade

Ecologia como ética, ciência e paradigma

Afonso Murad

A palavra “ecologia” tem muitos sentidos e conotações. Para efeito didático, selecionaram-se aqui três dimensões básicas que se implicam neste conceito. A ecologia é simultaneamente: (1) movimento planetário de natureza ética, (2) ciência e (3) paradigma. Pode-se começar com qualquer um deles, pois estão intimamente relacionados. Cada dimensão oferece possibilidades de diálogo com a fé cristã e o seu saber, a teologia. Partiremos da dimensão ética e prática, considerando que as ações humanas são “ato primeiro”, parafraseando G. Gutiérrez.

A ecologia como ética e prática

Basta abrir jornais e revistas, ouvir noticiários na rádio, ou percorrer os canais de TV em diversos programas, para se dar conta de que a questão ambiental está presente na mídia quase todos os dias. Ela aparece como constatação (“o meio ambiente está cada vez mais fragilizado, devido à ação humana”) e interpelação (“é necessário fazer algo para mudar esta situação”). Aqui reside o caráter ético da ética. Responsabiliza-se o ser humano pela crescente destruição das “comunidades de vida” ou ecossistemas e pede-se dele uma nova postura.

Enquanto ética e prática, a ecologia constitui um amplo movimento, no qual fazem parte cidadãos comuns, ambientalistas, ONGs, grupos religiosos, pesquisadores e empreendedores. O que os reúne é o compromisso de fazer algo para o bem do planeta. O movimento ecológico não tem hierarquia nem mecanismo de controle ideológico. Organiza-se sobretudo como rede em torno a causas comuns, de diferentes amplitudes. Desde a ação local para manter limpo um riacho em determinada cidade, até o protocolo intergovernamental de abrangência mundial, para reverter o aquecimento global. No Brasil, há na Internet muitas redes de informação e mobilização em torno da questão ecológica. Por exemplo, a rede brasileira de educação ambiental (REBEA), e a rede em torno das mudanças climáticas (PROCLIMA). Nelas se divulgam informações, opiniões, estudos. E se convoca à participação em eventos e ações conscientizadoras.

O movimento ecológico emite um juízo de valor sobre a relação do ser humano com o meio ambiente. E o interpela, para que reverta os processos de destruição dos ecossistemas e assuma sua responsabilidade pelo presente e pelo futuro de nosso planeta. Tem, portanto, uma dupla vertente de valoração e de ação.

Uma parte significativa do movimento ecológico desenvolve um olhar crítico sobre as estruturas sócio-político-econômicas que regem a economia de mercado, no mundo globalizado. O atual modelo civilizatório exige cada vez mais energia, explora irresponsavelmente recursos finitos e desestrutura os ecossistemas. Está intimamente conectado com o capitalismo internacional. O mesmo sistema que concentra riqueza, exclui nações e povos, também explora e destrói o meio ambiente. Somente uma mudança radical, fora da economia de mercado, tornaria o nosso planeta viável no presente e no futuro. O próprio conceito de desenvolvimento precisa ser revisto.

Outras correntes defendem a bandeira do desenvolvimento sustentável, dentro do capitalismo. Trata-se de investir na ciência e na técnica, aperfeiçoar e corrigir os mecanismos de produção, consumo e descarte dos produtos, reduzir a poluição e aumentar a ecoeficiência. Apelam para um crescente compromisso dos cidadãos e das empresas, no sentido de minimizar o impacto ambiental. Exigem crescentes avanços na legislação dos países, para coibir abusos e punir crimes ambientais. Postulam uma governança planetária, mediada por protocolos e convenções que estabeleçam metas e compromissos das nações com o planeta.

A ecologia recoloca a questão dos valores, do cuidado com a vida, de forma duradoura. O conceito de sustentabilidade ecológica foi introduzido na década de 80 por Lester Brown. Mais tarde, no Relatório Brundtland (1987) se fala em desenvolvimento sustentável, como satisfazer “as necessidades da atual geração, sem comprometer as das gerações futuras”. Assim, sustentabilidade é o somatório de processos que visam garantir a continuidade da qualidade da vida para as novas gerações de seres humanos, animais, plantas e microorganismos.

O conceito de sustentabilidade sofreu uma evolução no correr dos últimos anos. Originalmente, no movimento ecológico, significava garantir a continuidade das “comunidades de vida” e o equilíbrio dos ecossistemas, no presente e no futuro. Tinha assim uma conotação exclusivamente ambiental. Mas o termo foi apropriado pelos gestores de empresas do mercado global, passando a significar a viabilidade e a continuidade de um negócio ou empreendimento. Também os líderes governamentais passaram a usar este termo, para sinalizar se determinadas políticas tinham perspectiva de continuidade em longo prazo. O Fórum Social Mundial levantou a bandeira da “insustentabilidade” do atual mercado global, especialmente em termos sociais. E propugnou um “novo mundo possível e necessário”, com formas diversas de produção, consumo e inclusão. Deste “conflito de interpretações” nasce o termo atual, que inclui a simultaneidade de aspectos ambientais, econômicos e sociais.

Gestão e educação ambientais

A ecologia não é uma ética abstrata, restrita a conselhos generalizados. Ao contrário, ela se traduz em dois grandes instrumentais práticos: a educação ambiental e a gestão ambiental. A primeira significa a somatória de processos que visam criar uma nova mentalidade e posturas correspondentes, na relação do ser humano com o nosso planeta, enquanto a “casa comum”. Sua abrangência é vasta, pois visa a reeducação da humanidade, em termos de percepção do mundo e dos valores que a orientam. A educação ambiental não veicula somente informações sobre o meio ambiente, mas também apura a sensibilidade, faz refletir sobre o sentido da atuação humana no ecossistema, e suscita ações individuais e coletivas, conferindo poder à comunidade local como protagonista de mudança.

Em vários cantos do mundo, a Educação Ambiental se desenvolveu, na sociedade civil e com estímulo do poder público. Na esfera da sociedade civil brasileira, criam-se ONGs e associações que promovem a consciência ecológica e o compromisso com a sustentabilidade junto às comunidades locais. Vários movimentos sociais incorporam a questão ambiental nas suas lutas. A Campanha da Fraternidade sobre a Água suscita uma série de iniciativas locais de natureza permanente. Escolas introduzem a Educação Ambiental como tema transversal. Empresas patrocinaram iniciativas de educação ambiental. Em âmbito governamental elabora-se a Política Nacional de Educação Ambiental, cujo marco é a lei 9.795/99. O Ministério do Meio Ambiente publica o ProNEA (Programa Nacional de Educação Ambiental), voltado à sociedade, enquanto o Ministério da Educação elabora os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) da Educação Ambiental, destinados às escolas. Prefeituras e governos estaduais empreenderam iniciativas e criaram equipes de trabalho de Educação Ambiental. Atuando com diferentes públicos e interlocutores, a educação ambiental visa formar consciência planetária e preparar cidadãos para uma nova percepção do mundo.

A gestão ambiental compreende processos comunitários e institucionais para viabilizar a sustentabilidade. Envolve vários atores sociais, como grupos religiosos e sociais, consumidores, educadores, comunicadores e o poder público. De forma visível, a gestão ambiental tem sido aplicada de forma crescente nas empresas, em resposta à crescente sensibilidade da população para a questão ecológica e às exigências da legislação ambiental. Adotam-se mecanismos para uso racional de água e energia, reduzem-se a quantidade de resíduos e de sua toxidade, racionaliza-se o processo de produção. Cria-se o mote da “produção mais limpa” (P+L). Desenvolvem-se modelos e ferramentas, e sistemas de gestão ambiental (SGA). Consolida-se o processo de certificação ambiental com a norma ISO 14001, de 1996 e 2004.

A educação ambiental e a gestão ambiental fazem a ecologia penetrar no tecido social, nas mentes das pessoas, nas comunidades locais, e nas práticas de produção e consumo. Podem assumir perspectiva transformadora ou manter o sistema que destrói nosso planeta.

Mística que parte da ética

Há uma busca pelo transcendente no meio do movimento ecológico. Ao descobrir as belas conexões ocultas da teia da vida, as múltiplas relações de interdependência entre os seres vivos e os abióticos, as pessoas se extasiam e percebem que há uma dimensão de gratuidade, de mistério, que vai além do âmbito da ciência. Muitos se esforçam para encontrar um sentido integrador da existência pessoal, coletiva e cósmica. Adotam um estilo de vida mais saudável e responsável, em contraposição à lógica desumanizadora da sociedade de consumo. Alguns se servem de diferentes tradições religiosas, para fazer um processo de evolução espiritual, que inclui a integração das pulsões, o autoconhecimento, o equilíbrio energético e a prática da meditação.

Pode-se dizer que há uma “mística ecológica difusa” neste ambiente. Trata-se de uma perspectiva espiritual, sem vinculação à determinada religião. Tomam-se livremente elementos de tradições religiosas diversas, como as “religiões de raiz” ameríndias e as oriundas da África, o hinduísmo e o budismo, o esoterismo moderno, e até mesmo o cristianismo. Tende-se a um Deus impessoal, pura energia que circula no cosmos (imanente). O divino estaria no TODO (panteísmo).

A ecologia como ciência e paradigma

Enquanto ciência, a ecologia nasceu da biologia. Inicialmente, era compreendida como o estudo dos seres vivos em relação com o seu habitat. Daí evoluiu para a ciência que estuda as condições de existência dos seres vivos e todas as interações possíveis entre estes e o seu meio. Literalmente, ecologia quer dizer o estudo ou discurso racional (logos) sobre a casa-Terra (oikos). Segundo F. Capra, a ecologia é o estudo de como a Casa Terra funciona, ou seja, as relações que interligam todos os moradores da nossa Casa comum. Constituem esta casa os seres abióticos e bióticos. Os primeiros, embora literalmente signifiquem “sem vida”, são fundamentais para os ciclos de matéria e energia no planeta: o solo, a água, o ar e a energia do sol. Os seres bióticos, por sua vez, compreendem os microorganismos (como bactérias, fungos e algas), as plantas e os animais. E entre os animais, estamos nós, os seres humanos.

Cada ciência tem objeto específico, perspectiva, epistemologia, método, jogo lingüístico próprio e comunidade validante. O objeto da ecologia são os ecossistemas: resultado das interações entre o conjunto de seres abióticos e os seres vivos em determinado contexto geográfico. Ecossistemas são redes de relações, das quais faz parte a ocupação humana.

A ecologia não é “um saber sobre a natureza”, e sim a ciência sobre a relação entre todos os seres, que torna possível a continuidade da vida no nosso planeta. No atual contexto planetário, ela pesquisa como o ser humano, ao conviver em determinados biomas, altera os biomas e o ecossistema. E também a busca de reequilíbrio. Por isso, não é a ciência da preservação, mas da gestão racional e sustentável dos recursos naturais, compreendidos no quadro mais amplo das “comunidades de vida”.

A mediação hermenêutica da ecologia se tornou tão importante quanto seu objeto de estudo. Já para Ernest Haeckel (+ 1919), primeiro formulador do conceito, a originalidade da ecologia consiste em superar o estudo isolado dos seres bióticos e abióticos, ao perceber as relações entre eles. Daí nasce a compreensão de “ambiente”, que é muito mais do que fauna e flora.

Ao dar o salto para um “saber de relações”, a ecologia postula uma mudança na forma de exercitar a ciência e na auto-compreensão do ser humano. L. Boff diz que a singularidade do saber ecológico consiste na transversalidade, isto é, “relacionar pelos lados (comunidade ecológica), para a frente (futuro), para trás (passado) e para dentro (complexidade) todas as experiências e todas as formas de compreensão como complementares e úteis no conhecimento do universo, na funcionalidade dentro dele e na solidariedade cósmica”.

Leonardo Boff define paradigma como “uma maneira organizada, sistemática e corrente de nos relacionarmos com nós mesmos e com todo o resto à nossa volta. Trata-se de modelos e padrões de apreciação, de explicação e de ação sobre a realidade circundante”. H. Küng distingue a extensão e a profundidade dos paradigmas, enquanto modelos de compreensão, classificando-os em macroparadigmas, mesoparadigmas e microparadigmas. Ora, a ecologia se transformou em macroparadigma, porque está alterando a autocompreensão do ser humano, que foi gerada na modernidade.

A aventura da modernidade caracteriza-se pelo antropocentrismo, pelo advento do sujeito autônomo (subjetividade) e pela universalização da ciência aplicada. Gesta-se uma visão linear e otimista da história, com a ilusão do “progresso infinito” e do “desenvolvimento ilimitado”. Os ecossistemas e suas comunidades de vida são reduzidos a “recursos naturais”. O mundo parece um reservatório infinito, do qual se pode retirar todo o necessário para produzir, vender e consumir. Ora, o paradigma ecológico questiona esta visão, por três vias.

a) A ecologia corrige e aperfeiçoa o antropocentrismo. O ser humano está no centro, mas junto com os outros seres, em busca de comunhão. É filho(a) da Terra, a própria Terra em sua expressão de consciência, de liberdade e de amor. O destino do ser humano está associado ao destino do cosmos. Superando o antropocentrismo egóico da modernidade, afirma-se que há uma circularidade: o universo é direcionado para o humano como o humano é voltado para o universo donde proveio. Pertencem-se mutuamente.

b) O paradigma ecológico revisa a subjetividade moderna, a partir das categorias “diversidade” e “interdependência”. Um dos princípios da ecoalfabetização, propugnado por F. Capra, é que a biodiversidade assegura a resiliência dos ecossistemas. Quanto mais espécies interagem, maior a resistência e a capacidade de reequilibrar-se. O mesmo vale para a convivência humana. Um ser humano sozinho, concebido de forma individualista, sem relação com os demais, centrado egoicamente em si mesmo, é extremamente frágil. A humanidade evolui e conquista equilíbrios mais complexos quando promove e inclui as diferenças de gerações, de gênero, de etnias e de culturas. A biodiversidade inspira a cultivar a antropodiversidade. O ser humano privado, individualista, competidor estaria condenado ao fracasso, em longo prazo. Os processos evolutivos do nosso planeta mostraram que não foram os mais fortes que sobreviveram, e sim aqueles que conseguiram estabelecer relações fortes de cooperação e interdependência.

c) O paradigma ecológico questiona a forma dominante de elaboração do conhecimento e fornece elementos para uma nova epistemologia. A ciência experimental, que define hoje nossa relação para com o universo, envolve duas dimensões constitutivas: compreender e modificar. Transformou-se numa forma de domínio, pois saber é controlar e objetivar. A ciência moderna negou a legitimidade de outras formas de diálogo com a natureza. Ora, o saber ecológico utiliza a razão instrumental da ciência moderna, mas também valoriza a razão simbólica e cordial (do coração), usa os sentidos corporais e espirituais. Assume que somos razão e afetividade. Assim, conhecer não é somente uma forma de dominar a realidade, mas também de entrar em comunhão com os outros seres. O sujeito pensante é parte do processo da realidade e de seu conhecimento reflexo.

Em síntese, um conceito abrangente de ecologia deve contemplar, no mínimo, estas três dimensões: ética, paradigma e ciência.

Fonte: http://ecologiaefe.blogspot.com.br/search/label/paradigma%20ecol%C3%B3gico

¿Nuevos desafíos teológicos? (Espanhol)

La realidad de la globalización, la sofisticación de los medios de comunicación y la creciente influencia del mundo virtual, han implicado, en las últimas décadas, fuertes transformaciones en el campo de lo educativo y de las modalidades pedagógicas. El desplazamiento espacial constante de los sujetos y la complejización del análisis de los contextos sociales vigentes, puso en jaque a los modelos y perspectivas tradicionales de lo educativo, así como sus modos de institucionalización.

Como muchas y muchos afirman, estas transformaciones no tienen que ver sólo con cambios y readaptaciones en el área de lo tecnológico. Existe, en cierta medida, un cierto romanticismo al respecto, donde se piensa que sólo con la mediación de una computadora con Internet, dichos obstáculos pueden ser sorteados. Por el contrario, estos desafíos requieren, ante todo, de profundas transformaciones en torno a los paradigmas tradicionales en lo educativo y pedagógico, específicamente en las dinámicas de construcción del conocimiento, el rol de los sujetos y los mecanismos de poder, el lugar de nuevas modalidades de aprendizaje, entre otros elementos.

¿Cuáles son los desafíos que se presentan frente a las nuevas circunstancias, especialmente desde las modalidades virtuales cada vez más en boga en el campo educativo? Sumariemos solo algunos:

- Una mayor centralización en el lugar de el/la estudiante como sujeto activo en la construcción del conocimiento. La distancia física entre profesores/as y estudiantado transforma el rol de ambos, haciendo que los primeros se ubiquen como tutores y acompañantes de procesos de aprendizaje, y los últimos en constructores de esquemas y mecanismos prácticos y teóricos desde su lugar y contextos. Esto, por supuesto, es también una realidad en instancias presenciales. Pero las modalidades virtuales y la carencia de un espacio físico concreto, profundizan aún más su énfasis.

- Elaboración de modelos pedagógicos constructivistas. Esto se conecta con el punto anterior. Carecer de un espacio áulico presencial, donde el grupo tiene contacto directo y desde donde se pueden realizar dinámicas de participación más fácilmente, levanta una serie de desafíos en el campo de lo pedagógico, donde se hace necesaria la aceptación y reconocimiento de otras presencialidades y tipos de interacción, cuyos efectos, auque diferentes, no distan de ser menos efectivos que los de una instancia presencial. Esto requiere, como muchos/as afirman, de una resignificación de lo espacio-temporal y del lugar de los/las estudiantes en la construcción de nuevos paradigmas pedagógicos. La aprehensión de estas realidades se hace muy difícil para muchos/as profesores y estudiantes habituados a lo presencial. Por ende, el desafío es cómo preparar un espacio de construcción del conocimiento, teniendo en cuenta las posibilidades –comunicacionales, estéticas y estructurales- que dispone un espacio virtual.

- El reconocimiento de lo intercultural. Una de las grandes ventajas de las nuevas tecnologías es facilitar la creación de un espacio plural, donde diversas voces, experiencias y perspectivas culturales entren en contacto, elemento que en una instancia presencial es más difícil de lograr (al menos desde las características particulares que un espacio virtual facilita). Como algunos/as afirman, esto significa una profunda democratización de lo educativo. La convergencia de tantas latitudes y contextos en un mismo espacio, conlleva que la construcción del conocimiento se inscriba en un campo sumamente heterogéneo, lo cual enriquece profundamente su dinámica. Esto, a su vez, requiere de una complejización de lo epistemológico, donde se hace necesaria la promoción de una sensibilidad hacia la voz del otro y lo diferente, y la necesidad de resignificar constantemente la construcción de sentidos, símbolos, conceptos y “verdades”.

Dialogando sobre algunos de estos temas con un profesor de teología, me dice lo siguiente: “Nosotros aplicamos el constructivismo como paradigma, pero no ‘ateo’ sino ‘cristiano’, donde sí hay principios y verdades. Por eso, hay que dar oportunidades para que, dentro de esas verdades absolutas, los estudiantes vayan variando su cosmovisión particular”. Como podemos ver, esta afirmación podría conllevar ciertas dificultades para dar respuesta a los desafíos descritos anteriormente. Se levantan varias preguntas: ¿qué lugar tienen los sujetos concretos en la construcción de lo teológico? ¿Existe una teología que se contextualiza, o una pluralidad de ellas? ¿Dónde reside el “principio de verdad”? ¿Cómo enfrentamos las nociones de pluralismo, diferencia y heterogeneidad intrínsecos a las dinámicas interculturales, facilitadas por las modalidades virtuales?

Este ejemplo muestra, como dijimos al inicio, que dichas transformaciones no sólo implican cambios en el campo de lo tecnológico sino, principalmente, de lo paradigmático. Más aún, en este caso, de lo teológico. ¿Por qué? Porque, como sabemos, la teología parte también de un marco epistémico, metodológico y hermenéutico que encauzará de manera particular sus discursos y propuestas. De aquí, entonces, que la teología, en tanto disciplina educativa, debe asumir estos nuevos desafíos desde transformaciones no sólo en el campo tecnológico, práctico o institucional, sino –principalmente- desde su propia constitución epistemológica.

¿Cómo responder, entonces, a estos desafíos desde el quehacer teologal? Abordemos brevemente algunos elementos que nos pueden servir como puente para afrontarlos:

- La contextualidad de la teología. Esto puede parecer una verdad de Perogrullo, pero no está demás recordarlo. La teología es siempre una construcción de sentido inscripta en contextos específicos. Lo contextual, entonces, no es solo un escenario mediador neutro sino un locus en donde se inscriben los filamentos más profundos de todo discurso teológico. Esta comprensión conlleva el reconocimiento de una doble vía en su quehacer. Por un lado, la teología, desde su misma esencia, promueve el valor de la existencia de una pluralidad de contextos. No hay un solo lugar desde dónde hablar de lo divino sino muchos. Por otro, esta misma pluralidad de lo contextual conlleva el hecho de la relativización (o sea, de la no enarbolación en una posición absoluta) de todo discurso teológico. ¿No es ello, acaso, el reconocimiento de la trascendencia de lo divino? Más aún, es aquí donde comprendemos que lo intercultural posee un lugar central en la construcción teológica, ya que su quehacer no es más que un posicionamiento en ese “inter” entre diversos contextos culturales, desde tiempos bíblicos hasta hoy.

- La dinámica de la logía en lo teo. Siempre decimos que la teo-logía es el discurso sobre Dios. Pero “logía” también significa diálogo. Esto implica que lo teológico se inscribe en una práctica dialogal donde entran en juego muchos actores y discursos, ubicados, como dijimos, en una pluralidad de lugares y contextos. Reconocer esta dinámica dialogal de lo teológico implica reconocer la necesidad de la apertura de su quehacer, donde todas las voces deben ser escuchadas y donde cada una de ellas posee un lugar particular de veracidad, aunque el encuentro con un “otro” hace que ninguna de ellas se entrone en una posición absoluta.

- La centralidad de lo narrativo y experiencial. Esta pluralización y centralidad dialogal de lo teológico, implica reconocer la importancia de las experiencias concretas de los sujetos. Por ello, lo narrativo es una herramienta central en la tarea teológica (especialmente en el campo de lo educativo), en tanto práctica que promueve la circulación de relatos particulares, que en su misma especificidad y localización, posee un rol esencial en la construcción de los conocimientos y las maneras de circunscribir y pluralizar lo teológico. Enfatizar en dichas narrativas es empoderar el lugar de los sujetos en la construcción de lo teológico, en este caso en un espacio educativo.

En síntesis, la pluralización y heterogeneidad inherentes a las nuevas dinámicas pedagógicas actuales, requiere también de una transformación paradigmática del quehacer y enseñanza teológicos. Este es un camino de doble vía, sin el cual ninguno de los dos campos podrá desarrollarse. Por una parte, la implementación de nuevas modalidades pedagógicas sin una apertura de la comprensión del quehacer teológico no permitirá una verdadera profundización y efectivización en sus resultados. En otros términos, el objetivo transformador y propulsor de lo educativo en el contexto actual no alcanzará su meta. Por otra parte, la clausura del quehacer teologal en modelos pedagógicos no pertinentes a las nuevas complejidades del contexto, conllevará a una clausura de lo teológico en sí, al no reconocer su intrínseca heterogeneidad, pluralidad e interculturalidad constitutivas.

Fonte: http://www.lupaprotestante.com/lp/blog/nuevos-contextos-nuevas-pedagogias-nuevos-desafios-teologicos/

Evangelizar: una invitación a vivir en el amor y la diferencia (Espanhol)

Y ahora permanecen la fe, la esperanza y el amor; pero el mayor de ellos es el amor.1 Corintios 13.13

La evangelización es un tema complejo que despierta muchas susceptibilidades. Y no es para menos. Por diversas razones se la ha definido como imposición, proselitismo, como un tipo de discurso que debe aceptarse sin cuestionamientos, como la adhesión a una iglesia o religión, entre otras cosas. Sí, siempre se dice: “el evangelio es una forma de vivir, no una religión”. Pero del dicho al hecho, hay un abismal trecho. Los dogmas, las formas religiosas, las moralinas, pregonan por sobre la simpleza del sentido común y la vivencia cotidiana de la fe. La historia muestra muchos ejemplos que respaldan estas comprensiones, y la distorsión y daño que han traído en muchos sentidos. Nada de buenas nuevas; pura muerte y malas noticias. Pero a veces esos cuestionamientos, aunque totalmente veraces, nos pueden llevar a ser reacios con el tema, sin profundizar en sus riquezas y valores.

Nicolás PanottoHay muchas resignificaciones que son necesarias hacer, ya que el término “evangelizar” está viciado y cargado de sentido por su bagaje histórico, tal como recién mencionamos. Es interesante notar que en el NT encontramos 52 menciones de “dar o compartir las buenas nuevas”, mientras que “evangelista” –un término que refiere más a una función institucionalizada- aparece solo 3 veces. Como todo en la vida, parece que ciertos elementos se tornan resistentes cuando se sedimentan y pierden la frescura del proceso o la no definición estricta que conlleva el simple “compartir”, sin una forma única.

Defino compartir el evangelio como una invitación a vivir en el amor fraterno. Esta enunciación trae consigo algunos replanteamientos. Principalmente, el hecho de que el evangelio no es un cúmulo de credos sino un nuevo estilo de vida. No implica la aceptación de una religión sino una nueva manera de comprender la realidad y transitarla. Lo religioso es funcional a ese nuevo estilo de vida, y no al revés. El evangelio es una invitación a amar al prójimo; este punto de partida, y no otro –como puede ser la aceptación de una moralina, de una práctica religiosa, del cumplimiento de prerrogativas eclesiales-, es el marco a partir del cual se comprende la invitación a formar parte de una comunidad eclesial. En otros términos, se invita para aprender a amarnos juntos y juntas, no a ser un elemento más de la estructura eclesial. Sólo en comunidad crecemos en el amor, y así en la fe.

En resumen: compartir las buenas nuevas es vivir en el amor al prójimo según el ejemplo de Jesús, quien vivió en comunidad con sus discípulos y discípulas, creciendo en el amor fraterno y la enseñanza. Por todo esto, debemos aprender a ser simples a la hora de definir esta tarea: el evangelio es la representación del amor pleno de Dios hacia el ser humano, y el compartir la fe significa la inevitable carga de amar y compartir ese amor.

Ahora, la pregunta es: ¿sabemos amar? ¿Vivimos en el amor? ¿Es el amor la columna medular de nuestra comunidad de fe? La poca claridad sobre este tema ha influido negativamente en la comprensión de la evangelización: más que en una práctica de amor al prójimo, ella se define desde un lugar de poder, desde la creencia de ser poseedores de una Verdad que se debe transmitir, presentada como un discurso cerrado o una práctica religiosa. Compartiendo este tema con una amiga, me comentó de un graffiti cerca de su casa que dice así: “El amor no tiene dueño. El amor no tiene sueño. El amor no tiene”. Por eso tenemos que preguntarnos cosas muy básicas: ¿qué significa amar? ¿Es algo que poseo como un objeto o es un proceso que debo vivir y descubrir con los demás?

Vayamos a Corintios 13, un conocido pasaje que refiere a estos temas. El contexto de este escrito es el reconocimiento de la heterogeneidad de la comunidad de Corinto, en la variedad de dones que todos y todas tenían. Al parecer, existían competencias y conflictos sobre el desarrollo de estas prácticas dentro del grupo. Por eso surge la pregunta: ¿cómo sobrellevamos esas diferencias? La respuesta es clara: el amor.

¿Pero implica el amor terminar con esa heterogeneidad y su inherente conflicto? Para nada. Por el contrario, significa sobrellevar y promover dicha pluralidad. Por ello, una de las consecuencias de la falta de amor es el no reconocer al otro en su diferencia. Existe una gran resistencia frente a lo que se presenta distinto a nuestra cosmovisión, creencia, identidad y práctica. Lo diverso da temor; por ello, se lo anula.

El pasaje muestra que el amor es aquella actitud que va más allá de las formas específicas, de lo dado, de lo establecido, como son los dones en sus formas concretas. Todo esto implica que el amor reconoce la imperfección. ¿Por qué? Porque no existe la perfección del lugar único, de nuestro espacio, pensamiento, religión, posición moral. La imperfección es lo que nos atraviesa y a su vez nos abre a la búsqueda de lo mejor, para nosotros/as y los demás, lo cual representa un proceso inagotable. Posicionarse en la perfección es encorsetar en un aura de poder mi particularidad.

No existe amor si no reconozco que necesito del otro y que el otro necesita de mí. Necesito a los demás porque no soy Dios, no puedo con todo. Este pasaje, en resumen, nos muestra que el amor es el reconocimiento de la diferencia que nos atraviesa, que nos abre como sujetos, tanto a nosotros mismos como hacia los demás.

Esta comprensión del amor nos quita del podio que muchas veces construimos, desde donde creemos tener y predicar la verdad absoluta a la cual el mundo debe rendirse. Por el contrario, como creyentes debemos reconocer más que nadie la finitud de la humanidad –y con ello de sus creencias, posiciones, pensamientos y lugares-, porque en ese reconocimiento se manifiesta el poder del amor como vínculo y como camino que inscribe el proceso de todo lo existente.

El amor y la esperanza van de la mano. En la Biblia, la esperanza no tiene que ver con un sentimiento romántico, como a veces creemos, sino que es un término teológico muy importante y denso en sentido. Es reconocer que la historia se basa en Dios y como tal se encuentra abierta a su acción. Lo que vemos ahora no es único ni absoluto; es algo muy distinto a lo que viviremos en un futuro (que tampoco conocemos) Por ello, amar en la esperanza significa cuestionar el egoísmo, el poder y el orgullo que cercenan formas distintas de sentir, de ser, de ver, tras la promoción de una verdad absoluta incuestionable. Vivimos en la esperanza de que todo puede cambiar y ser distinto. El amor reconoce la belleza y el poder de la diferencia ya que es en ella donde se manifiesta su riqueza multifacética. Por ende, nadie puede adueñarse de un lugar único, tanto para sí mismo como para los demás.

Amar en la esperanza es creer que todo tiene un proceso, que nosotros mismos estamos en proceso y debemos vivir en constante cambio. Amar en la esperanza es abrirnos a que los demás también se encuentran en proceso, en que pueden ser distintos y desde ese deseo alcanzar lo que anhelan. Eso nos quita del juicio y de apoderarnos del prójimo, para entregarnos a la tarea de abrir caminos de reconocimiento e inclusión. Amar en la esperanza implica reconocer que nosotros y nosotras necesitamos caminar con los demás en el descubrimiento de lo que viene, y que por eso carecemos de una verdad que sobrepasa al otro/a, que nos ubica en un lugar de poder y superioridad.

Compartir el evangelio significa amar e invitar a aprender a amar, no enseñar credos. En este sentido, el amor no es un medio, sino un fin en sí mismo. Es reconocer nuestra imperfección y necesidad de los demás. Así, la evangelización no es una invitación para que el otro/a aprehenda mi creencia porque ella es en sí única y perfecta, sino que es la demostración del deseo de que más personas se sumen en el camino en que nos encontramos todos y todas como seres humanos, donde necesitamos aprender a amar juntos, en comunidad, en sus múltiples formas.

En otras palabras, evangelizar es reconocer que necesitamos del otro/a. Es, en definitiva, invitar a vivir en esperanza, comprendiendo que las cosas pueden ser distintas de lo que son, así como nosotros/as mismos/as. Que las personas no son objetos receptores de un mensaje sino sujetos que viven opciones e historias, y por ende “están en camino”, así como nosotros y nosotras.

Fonte: http://www.lupaprotestante.com/lp/blog/evangelizar-una-invitacion-a-vivir-en-el-amor-y-la-diferencia/

Entrevista al Pastor Emilio Castro (Espanhol)

El pastor Emilio Castro acaba de partir a la presencia del Señor.  Tuve la oportunidad de conocerlo  en la Conferencia sobre Misiòn y Evangelizaciòn del Consejo Mundial de Iglesias (CMI), realizada en Salvador, Bahìa, Brasil en 1996.   En torno a un café este pastor metodista nacido en Uruguay, compartiò acerca de la Iglesia, la misión, la evangelización, el ecumenismo en Amèrica Latina. Tambièn recordó su tiempo de Secretario General y el apoyo que esta nstituciòn brindo a la lucha por la justicia, la paz y la democracia en Chile en los tempos de la dictadura militar de Pinochet.

¿Nos podría contar brevemente algo de su vida?

Bueno, es la vida de un pecador normal que vive o trata de vivir de la gracia de Dios y de la amistad de los hermanos después de haber trabajado en los movimientos ecuménicos, en la formación de CLAI, la conferencia de Iglesias de América Latina y luego de haber dado algunos años al trabajo del Consejo Mundial de Iglesias a partir de Ginebra.  Ahora estamos de vuelta en Montevideo donde a Dios gracias podemos servir en una pequeña congregación muy viva y muy activa, con mucho espíritu de cariño entre hermanos y abiertos a las necesidades imperantes de nuestra situación latinoamericana, buscando junto con la comunidad participar el evangelio y los frutos del evangelio con la sociedad más grande que nos rodea y desde allí, desde Montevideo, viajando un poco tratando de aprender y de compartir experiencias vívidas y las bendiciones que Dios nos ha dado a lo largo de la vida.

¿Cómo ve usted al movimiento evangélico en América Latina en este tiempo?

Es una pregunta muy general porque puede contestarse en forma diferente en cada país, pero en términos generales el movimiento evangélico vive el gran problema de su crecimiento numérico, lo que hace que dediquemos mucha mas atención a la formación de la comunidad cristiana.  Un líder pentecostal brasileño afirma que nuestro problema no es la evangelización porque las iglesias se llenan casi solas.  Nuestro problema es la formación de ciudadanos cristianos, de que significa participar de una iglesia.  Lo pondría de esta manera.  Si se puede calcular que los evangélicos en América Latina somos quizá un 20% habría un 20% menos de violencia, de miseria de injusticia, de desempleo de inmoralidad en América Latina.  O no ha cambiado nada substancialmente en las condiciones totales del continente. Si nuestro problema es redescubrir la vocación de ser la manada pequeña que es llamada a ser sal de la tierra y luz del mundo y preguntarnos con seriedad y humildad por qué Dios está levantando un pueblo evangélico entre las camadas pobres de América Latina.  Para qué misión, para qué bendición, para qué tipo de presencia servicial nos está llamando?  Este es el gran desafío, el crecimiento es notable, y aquí mismo puede estar la tentación de querer ser nosotros también la Iglesia del poder con privilegios y demás.  Pero también hay la gran oportunidad de querer ser la Iglesia a la que Dios da la oportunidad de ayudar a la redención de todo el continente y afrontar señales del reino que viene en medio de nuestra comunidad humana.

¿Cuál es su impresión de la situación que viven nuestros pueblos en América Latina hoy?

Bueno, a Dios gracias en general, con la gran excepción de Colombia, estamos viviendo una situación de paz en el sentido de que no hay una violencia armada, que no hay una lucha de guerra civil, etc. Gracias a Dios por la Paz que se ha firmado después de muchos años y con la intervención del Consejo Mundial de Iglesias y otra iglesia entre el gobierno guatemalteco y los movimientos guerrilleros, lo cual da una nueva esperanza también de justicia, de fruto del pueblo guatemalteco.  En este sentido debemos estar  muy agradecidos.  Prácticamente en todos los países de América Latina los gobiernos civiles han vuelto a una expresión de un sistema democrático de elección de los gobiernos.  Hay gobiernos y problemas que no me gustan, pero eso es opinable, para todo el mundo el tema fundamental es que la sociedad ha encontrado la normalidad en mecanismos para elegir y cambiar sus representantes y de esto debemos dar gracias a Dios ya que ha cambiado mucho en los últimos 10 años, y muy positivamente. Lamentablemente, no podemos ser tan optimistas en cuanto a los modelos económicos imperantes en América Latina, que si escuchamos a los grandes economistas nos dicen que las cosas van muy bien, porque en general pareciera que los presupuestos nacionales están bajo control, pero si escuchamos al pueblo nos damos cuenta de que su situación  es muy precaria y crece la marginalidad, y es gente que no puede encontrar un lugar en el proceso de consumo y producción del día de hoy.  Encontramos que la distancia entre los más ricos y los más pobres en nuestros países se esta ampliando y que el desempleo es una realidad que golpea fuerte en países con 50% de desempleo, esto no puede ser más que anticipos a una insurrección popular. En consecuencia, veo la situación de América Latina  con luces y sombras y nosotros los cristianos debiéramos recuperar nuestra dimensión profética no ya desde afuera de la situación, sino desde adentro para enfrentar las injusticias y colocarnos al lado de los pobres para, juntos con ellos, intentar transformar estas situaciones. No podemos aceptar que la ausencia de un complejo militar y la existencia de mecanismos democráticos de gobierno sean suficientes si no hay justicia, si siguen los índices de mortalidad infantil, si sigue la falta de posibilidades educacionales, si sigue el desempleo imperante en nuestro continente. Por allí hay un enorme desafío para todos los cristianos y no cristiano, y a que juntos nos planteemos este problema y busquemos soluciones nacionales; y algunas tendrán que ser de carácter continental.

¿Cuáles cree usted que son los puntos fuertes y los puntos débiles de las iglesias Evangélicas, en este tiempo?

Yo creo que el punto fuerte sigue siendo la referencia a Jesucristo y la convicción de que el Espíritu Santo esta vivo y actuando en medio nuestro.  No podemos perder de vista que esto es realmente lo único con lo que contribuimos, como Juan el bautista nosotros no estamos para predicarnos a nosotros mismos sino para señalar hacia aquél que vienen en el nombre de Dios.  En consecuencia, todo lo que se haga para la distribución de las escrituras, para invitar a la gente a conocer la historia, la vida de Jesucristo, todo esto es una contribución formidable sobre la situación latinoamericana.  El punto fuerte de las Iglesias Evangélicas es el llamado a la conversión, la personalización.  Las gentes llegan a nuestras iglesias y se encuentran con que son invitadas por Dios mismo a tomar una decisión, que son alguien, que son  personas, que son importantes como hijos e hijas de Dios.

También es importante que nuestras iglesias desarrollen una vida interior organizada, donde la gente esta haciendo una experiencia de democracia mucho más participativa que la democracia política, donde en general se nos invita a que se apoye a un carismático y que voten sin pensar mucho, mientras que en las iglesias vamos aprendiendo la formación de convicciones, la formación de grupos de trabajo, el llevar la vida administrativa que nos capacitará luego para ser ciudadanos en el sentido más amplio del ser.  Creo que las iglesias evangélicas en general tienden a responsabilizar a la gente por su destino, se les llama a dar frutos, a ser una nueva criatura y esto es lo que necesita la sociedad latinoamericana. No  esperar ser asistida, sino ver que Dios nos coloca sobre nuestros pies para transformar nuestra situación.

La debilidad de las Iglesias Latinoamericanas es una excesiva preocupación por su crecimiento institucional, un excesivo uso funcional del evangelio. Es decir, qué estamos prometiendo: ¿Tiene desempleo? Venga a la  iglesia;  ¿Quiere que le suban el sueldo? Venga a la Iglesia;  ¿Esta enfermo? Venga a la Iglesia; ¿Le pegó su señora? Venga a la Iglesia.  Cuidado, en el evangelio hay poder para enfrentar todas esas situaciones, pero el evangelio no es una varita mágica del hada madrina de la Cenicienta que soluciona todos nuestros problemas.  Esta tentación a un culto de la prosperidad esta presente.  La realidad es que Dios da bendición, pero es una realidad también que Dios nos invita a tomar la cruz y a seguir a Jesucristo.  Y todo el evangelio se refiere a la cruz no solo como lugar de mi salvación, sino como el estilo de vida al cual estamos todos llamados con Jesucristo, al servicio de nuestro prójimo y, si no, es un evangelio falso.  La tentación esta allí para ser vencida no para que nos gane. Pero siendo conscientes de que existe podemos pedir fuerza en el espíritu para resistir.

 ¿Qué opinión le merece la participación de tantos evangélicos en política en estos últimos tiempos?

En términos generales, me parece positivo que los evangélicos asumamos responsabilidad por toda la comunidad como cualquier otro ciudadano.  Era un error que compartíamos antes de pensar que el evangelio, o que el cristiano no se mete en política. Eso vino ya que los misioneros siendo en su mayoría norteamericanos, ingleses, ellos como extranjeros no se metían en política acá. En sus países eran republicanos, demócratas y peleaban con todo el mundo, pero acá era una irresponsabilidad porque dejábamos todo en área de decisiones importantes que afectan a la vida de todo el mundo sin la potencial influencia del evangelio.  De manera que en principio me parece importante y útil, hay que estar en todos los aspectos de la sociedad, hay que arriesgarse a ser sal y luz allí.  Habiendo dicho esto hay que decir que hay que tener cuidado de pensar que los evangélicos vamos a la política para conseguir ventajas para las iglesias. Debemos ser conscientes de que si estoy allí es para servir a todo el pueblo, para buscar el bien de la comunidad en su conjunto y no para buscar el bien de los nuestros en particular.

La segunda gran tentación es pensar que nosotros por ser evangélicos sabemos más que los demás, por ser evangélicos debemos ser más responsables y estudiar mas y mejor junto con los demás.  La política es un arte y una ciencia, hay que prepararse, no basta la buena voluntad. Esta es explotada por aquellos que saben como utilizarla.  Los que llegamos nuevos al mundo político tenemos que reconocer con humildad que tenemos que aprender las reglas del juego para poder ser inteligentes.  Recordamos aquello de Jesús que seamos mansos como palomas pero astutos, sabios.  Al entrar en camino nuevo debemos conocer bien las reglas del juego para evitar ser sorprendidos en nuestra buena fe. Me parece que es una cosa perfectamente normal y lógica, y los cristianos nos sumamos como cualquier otro ciudadano con responsabilidad por el bien de la comunidad.

¿Cuál es la misión de la Iglesia hoy en América Latina?

La misión de la Iglesia es ser una señal del Reino de Dios, que en si viva intercediendo por todos los demás; que la Iglesia no sea un grupo de egoístas que tienen su salvación asegurada como una especie de visa o pasaporte para irse al cielo, sino que  sea un grupo en el cual la bendición recibida los coloca al servicio del Señor, al servicio de los demás. En consecuencia, un pueblo servidor un pueblo que esté al servicio de la expresión del amor, un pueblo profético, un pueblo que anuncia el llamado de Dios al arrepentimiento y a las buenas nuevas del evangelio. Si recuperamos nuestra visión de un pueblo sacerdotal, de un pueblo servicial, de un pueblo profético, ya tenemos una linda misión para América Latina.

Fonte: http://www.lupaprotestante.com/lp/blog/entrevista-al-pastor-emilio-castro/

06 abril, 2013

Escolhidos Desde a Eternidade!

John MacArthur

Efésios 1.3-14 é um hino de adoração proveniente do coração do apóstolo Paulo. Não é um argumento teológico monótono, e sim o transbordar de sentimentos ardentes do coração agradecido do apóstolo. No grego, esta passagem constitui uma grande sentença. O Espírito de Deus inspirou o apóstolo Paulo a proferir esta profusa adoração ao Deus que o havia salvado.

a. A passagem

“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo, assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado, no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça, que Deus derramou abundantemente sobre nós em toda a sabedoria e prudência, desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo, de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as da terra; nele, digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade, a fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo; em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa; o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória.”

b. As pessoas

1. O Pai

Governando estes versículos, encontra-se a idéia de que Deus realizou a salvação por sua própria vontade, propósito e desígnio. A salvação não resulta da vontade ou do mérito de uma pessoa. A salvação não é obtida por meio de sacrifícios religiosos ou de boas intenções. O crédito da salvação pertence apenas a Deus, e somente Ele pode ser louvado e glorificado.

2. O Filho

A salvação é a obra de Deus mediada por Cristo. A salvação tanto se realiza em Cristo como por meio dEle . A salvação se encontra no Amado, que é Cristo. Foi proposta nEle. Enquanto a salvação é uma obra exclusiva do Pai, ela se realiza por intermédio de Cristo.

3. O Espírito

A salvação é selada pelo Espírito Santo (v. 13). Ele é o Espírito Santo da promessa, que nos foi dado como penhor de nossa herança — a garantia de nossa completa e futura redenção como propriedade de Deus mesmo. Deus, o Pai, Deus, o Filho, e Deus, o Espírito Santo, recebem todo o crédito da salvação.

Ensinos

I. Deus nos escolheu

“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo, assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele.”

a. A afirmação do apóstolo

Paulo inicia esta passagem afirmando que Deus recebe todo o louvor na salvação. O verbo traduzido “escolheu” (no grego, eklegomai) foi empregado na forma reflexiva, significando “selecionar para si mesmo”. Isso significa que a ação do verbo retorna à pessoa que a pratica. Paulo estava dizendo que Deus nos escolheu tendo em vista o seu próprio interesse — para Si mesmo, pessoalmente. A escolha divina foi realizada antes que o mundo existisse.

b. A confirmação das Escrituras

A Bíblia afirma a verdade da escolha redentora feita por Deus.

1) Mateus 25.34 - Jesus disse: “Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo”. O Senhor planejou tanto o reino quanto os habitantes do reino, antes que o mundo começasse a existir. Você e eu somos salvos e conhecemos o Senhor Jesus por que Deus nos escolheu.

2) Lucas 12.32 - Jesus disse a seus discípulos: “Não temais, ó pequenino rebanho, porque vosso Pai se agradou em dar-vos o seu reino”.

3) João 6.44 - Jesus proclamou para uma grande multidão: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, não o trouxer [compelir]”.

4) João 15.16 - Jesus disse a seus discípulos: “Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto”. Nós não escolhemos a Jesus; Ele nos escolheu. Não decidimos por Cristo no mais verdadeiro sentido — Ele decidiu por nós.

5) Atos 9.15 - O Senhor disse a respeito do apóstolo Paulo: “Este é para mim um instrumento escolhido”.

A conversão de Paulo aconteceu abruptamente — ele estava a caminho de Damasco para perseguir os crentes. Mas ele foi convertido, transformado e chamado para ser um apóstolo, porque Deus o escolhera antes da fundação do mundo.

6) Atos 13.48 - afirma sobre aquelas pessoas que ouviram a pregação de Paulo e Barnabé: “Creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna”. Deus outorga o dom da fé somente para aqueles que estão predestinados por meio da escolha dEle mesmo.

7) 2 Tessalonicenses 2.13 - “Devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação”. Paulo não deu graças porque os crentes de Tessalônica haviam decidido se tornar pessoas salvas. Eles não eram muitíssimo inteligentes, espertos, espirituais, perspicazes e, por isso, escolheram a Deus; pelo contrário, Deus os escolheu desde o princípio. A salvação exige que tenhamos fé, mas a fé é o resultado da escolha de Deus.

8) 2 Timóteo 1.8,9 - “Deus... nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos”.

9) 1 Pedro 1.2 - afirma que os crentes são “eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo”.

10) Apocalipse 13.8; 20.15 - infere que os nomes dos

crentes foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro antes da fundação do mundo.

c. A confirmação da teologia

Somente Deus pode receber o crédito por nossa salvação. A doutrina da eleição é a mais humilhante de todas as doutrinas ensinadas nas Escrituras. Deus escolheu um povo para torná-lo santo, a fim de que estejam com Ele para sempre. A nossa fé vem de Deus. Um poeta anônimo apresentou esta verdade nas seguintes palavras do hino Vida Interior: “Eu procurava o Senhor e descobri que Ele, buscando-me, inclinou minha alma a procurá-Lo. Não fui eu quem Te encontrou, ó verdadeiro Salvador; não, eu fui encontrado por Ti”.

II. Deus nos predestinou (v. 5)

“Em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade.”

a. A afirmação do apóstolo

Por meio da escolha divina previamente determinada, fomos predestinados para a adoção como filhos de Deus. Realmente somos filhos de Deus.

b. A confirmação das Escrituras

1) João 1.12 - “A todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus”.

2) Romanos 8.15 - “Recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai”.

3) Gálatas 3.26 - “Todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus”.

4) Gálatas 4.6-7 - “Porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai! De sorte que já não és escravo, porém filho; e, sendo filho, também herdeiro por Deus”.

5) 1 João 3.1 - “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus”.

c. A confirmação da teologia

A escolha predeterminada de Deus não dependeu do que Ele viu em nós. Ele a fez “segundo o beneplácito de sua vontade” (v.5). Deus não nos escolheu porque Ele tinha de fazer isso, e sim porque Ele quis — trouxe-Lhe prazer. Deus mesmo disse: “O meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade” (Is 46.10).

III. Deus nos concedeu sua graça (v. 6)

“Para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado.”

a. A afirmação do apóstolo

A escolha de Deus e a nossa predestinação se tornaram uma realidade em nossas vidas por intermédio da graça de Deus. Graça significa favor imerecido, bênção pela qual não trabalhamos, bondade não resultante de méritos. Somos salvos pela graça de Deus.

b. A confirmação das Escrituras

1) Efésios 2.8-9 - “Pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie”. A graça de Deus não admite qualquer mérito da parte do homem.

2) Atos 15.11 - “Cremos que fomos salvos pela graça do Senhor Jesus”.

3) Atos 18.27 - “Tendo [Apolo] chegado, auxiliou muito aqueles que, mediante a graça, haviam crido”.

4) Romanos 3.24 - Somos “justificados gratuitamente, por sua graça”.

c. A confirmação da teologia

A expressão, no versículo 6, pode ser traduzida literalmente por “mediante a graça temos sido agraciados”. Deus nos concedeu graça em Cristo, o Amado, trazendo à realidade a sua escolha e predestinação por nos tornar seus filhos.

IV. Deus nos redimiu (v. 7a)

“No qual temos a redenção, pelo seu sangue.”

a. A afirmação do apóstolo Paulo

1) Do que Deus nos redimiu?

Deus nos resgatou da escravidão ao pecado, à morte, ao inferno, a Satanás, aos demônios, à carne pecaminosa e ao mundo. Não tendo qualquer dignidade e esperança, com nossa mente em trevas e coração inclinado para o mal, éramos escravos miseráveis; apesar disso, Deus veio ao nosso encontro e nos comprou da escravidão. Fomos comprados porque fomos predestinados; predestinados, porque fomos escolhidos; escolhidos, porque fomos amados; e amados, porque o beneplácito de Deus assim o quis.

2) Por meio do quê?

Romanos 6.23 declara: “O salário do pecado é a morte”. Cristo nos redimiu por meio do derramamento de seu sangue. Esse não foi um preço fácil de ser pago. Ele teve de assumir a forma humana, vir ao mundo e morrer na cruz, vertendo seu sangue em sacrifício por nós. O sangue de Cristo é realmente precioso.

b. A confirmação das Escrituras

1) 1 Pedro 1.18-19 - “Não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo”.

2) Apocalipse 5.9 - diz a respeito de Cristo: “Digno és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação”.

V. Deus nos perdoou (v. 7b, 8a)

“A remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça, que Deus derramou abundantemente sobre nós.”

a. A afirmação do apóstolo

Deus não somente nos resgatou, mas também perdoou os nossos pecados — passados, presentes e futuros.

b. A confirmação das Escrituras

1) Mateus 26.28 - Jesus disse: “Isto é o meu sangue, o sangue da [nova] aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados”. Quando Deus perdoa (no grego, aphiemi, “mandar embora para nunca mais retornar”), Ele remove os nossos pecados para tão distante quanto o Oriente está do Ocidente (Sl 103.12), lança-os nas profundezas do mar (Mq 7.19) e nunca mais se lembra deles (Is 43.25).

2) Miquéias 7.18 - “Quem, ó Deus, é semelhante a ti, que perdoas a iniqüidade e te esqueces da transgressão do restante da tua herança?”

3) Romanos 8.1 - “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus”.

4) Efésios 4.32 - “Sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou”.

5) Colossenses 2.13 - “E a vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos”.

6) 1 João 2.12 - O apóstolo João disse: “Filhinhos, eu vos escrevo, porque os vossos pecados são perdoados, por causa do seu nome”.

c. A confirmação da teologia

O perdão de Deus foi derramado abundantemente sobre nós por meio das riquezas de sua graça. O perdão exigiu abundância de graça porque tínhamos muitos pecados. A parábola do credor incompassivo (Mt 18.21-35) afirma que temos uma dívida impagável e indescritível. Devemos nossa salvação ao Deus que desejou nos ter como sua propriedade peculiar. Somos perdoados independentemente de nossa indignidade.

VI. Deus nos iluminou (vv. 8b-10)

“Em toda a sabedoria e prudência, desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo, de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as da terra.”

a. A afirmação do apóstolo

Quando somos salvos, somos também iluminados. Deus nos apresenta um retrato de como todas as coisas, do céu e da terra, serão colocadas em sujeição a Cristo, para o seu louvor. Ele nos iluminou com

sabedoria nas coisas eternas e com prudência nas coisas terrenas.

b. A confirmação das Escrituras

1) 1 Coríntios 2. 12 - “Não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente”.

2) 1 Coríntios 2.16 - “Quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo”.

3) 2 Coríntios 4.3-4 - “Se o nosso evangelho ainda está encoberto, é para os que se perdem que está encoberto, nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus”.

4) 1 João 2.27 - “A unção que dele recebestes permanece em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine”.

c. A confirmação da teologia

Deus nos iluminou porque Ele mesmo o quis. Se não fosse por causa de seu beneplácito, permanece-ríamos nas trevas, incapazes de participar do seu plano.

VII. Deus nos prometeu (vv. 11-12)

“Nele, digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade, a fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo.”

a. A afirmação do apóstolo

Deus nos predestinou para sermos seus filhos, e seus filhos receberão a herança dEle.

b. A confirmação das Escrituras

1) Romanos 8.18 - “Os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós”.

2) 1 João 3.2 - “Ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é”.

3) 1 Pedro 1.4 - O apóstolo Pedro afirmou que temos “uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus”.

4) 2 Coríntios 1.20 - “Porque quantas são as promessas de Deus, tantas têm nele o sim”.

c. A confirmação da teologia

Todas as promessas de Deus — paz, amor, sabedoria, vida eterna, alegria e vitória — são nossas de acordo com a promessa de Deus. Elas nos foram asseguradas não por direito, e sim pela graça de Deus. Ele recebe toda a glória.

VIII. Deus nos selou (vv. 13-14)

“Em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa; o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória.”

a. A afirmação do apóstolo

Ele declarou que nossa herança está assegurada porque Deus nos selou.

b. A confirmação da teologia

Selar, nos tempos antigos, era um sinal de possessão, segurança, autenticidade e término de uma transação. A habitação do Espírito Santo nos crentes significa que eles são possuídos, seguros, autenticados e completos por Deus. Esperamos pela redenção completa e somos habitados pelo Espírito como um selo e garantia da nossa herança (Rm 8.23-24).

Conclusão

Somente Deus merece o crédito por nossa salvação. Ele nos salva por sua própria e espontânea vontade; todavia, de nosso ponto de vista, precisamos fazer duas coisas: a) esperar em Cristo (v. 12); b) crer nEle (v. 13). Isso também acontece para o louvor e glória de Deus mesmo (v. 12). Ele nos dá o poder para esperarmos em Cristo. Nossa fé vem de Deus (Ef 2.8-9). Ele abre nossos ouvidos para atendermos à mensagem da verdade e nos capacita a crer. Todo o processo de salvação é realizado pelo Espírito Santo; sem Ele, ninguém poderia esperar ou crer em Cristo.

Jesus disse que todos os que não crêem no Filho de Deus estão condenados (Jo 3.18). Deus, em sua graça soberana, decidiu salvar aqueles que Ele mesmo amou (Rm 9.8-13). Tais pessoas são resgatadas da correnteza de homens e mulheres sem esperança que flui em direção ao inferno. Essa é uma verdade humilhante e deve resultar em imensa gratidão de nossa parte. Por que Deus nos escolheu e não outras pessoas? Ele não o fez porque merecíamos a salvação, e sim para demonstrar “as riquezas da sua glória” (Rm 9.14-23). Portanto, nossa única reação tem de ser: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo” (Ef 1.3).

Ponderando os princípios

1) A nossa época proclama altissonantemente a auto-importância do homem. Os comerciais nos dizem que merecemos uma folga, um carro melhor, comida melhor, roupas melhores — merecemos mais da “boa vida”. Os problemas da humanidade freqüentemente são diagnosticados como falta de auto-estima. No entanto, a Bíblia diz que “todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer” (Rm 3.12). Ao invés de afirmar a boa estimativa que o homem faz de si mesmo, as Escrituras colocam as seguintes palavras na boca dos que têm discernimento: “Todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniqüidades, como um vento, nos arrebatam” (Is 64.6). Para que Deus seja corretamente honrado e glorificado, todo crente tem de compreender que a salvação é uma obra exclusiva da graça divina.

2) A obra de Deus na salvação tanto reflete a natureza de Deus quanto a natureza do homem. Quando o apóstolo João escreveu: “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus” (1 Jo 3.1), ele estava fazendo um comentário sobre o grande amor de Deus e sobre a corrupção do homem. Thomas Watson escreveu: “Para que você seja uma pessoa agradecida, Deus o chamou exatamente quando você O ofendia; Ele o chamou sem precisar de você e mesmo tendo milhares de santos glorificados e de anjos a adorá-Lo. Pense naquilo que você era antes de ter sido chamado por Deus” (A Body of Divinity). A doutrina da eleição soberana, entendida corretamente, produz gratidão profunda para com Deus nos corações dos crentes.

De que maneira isso tem afetado a sua vida?

Fonte:http://www.bereianos.blogspot.com.br/search/label/Apologética%20-%20Exegese#.UWCesb-9IyE

Como entender que a Bíblia é inspirada por Deus?

B.B. Warfield

A Confissão Belga resume a doutrina reformada da inspiração das Sagradas Escrituras no Artigo 3:

ARTIGO 3, A PALAVRA DE DEUS: Confessamos que a palavra de Deus não foi enviada nem produzida “por vontade humana, mas homens falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo”, como diz o apóstolo Pedro (2 Pedro 1:21). Depois, Deus, por seu cuidado especial para conosco e para com a nossa salvação, mandou seus servos, os profetas e os apóstolos, escreverem sua palavra revelada [1]. Ele mesmo escreveu com o próprio dedo as duas tábuas da lei [2]. Por isso, chamamos estas escritas: sagradas e divinas Escrituras [3].

[1] Êx 34:27; Sl 102:18; Ap 1:11,19. [2] Êx 31:18. [3] 2Tm 3:16.

Sobre isso, o teólogo presbiteriano B.B. Warfield escreveu:

“Os livros bíblicos são chamados inspirados por serem o produto, divinamente determinado, de homens inspirados; os escritores bíblicos são chamados inspirados por terem recebido o sopro do Espírito Santo, de maneira que o produto de suas atividades transcende a capacidade humana e recebe autoridade divina. A inspiração é, pois, definida, em geral, como sendo uma influência sobrenatural exercida nos escritores sagrados, pelo Espírito de Deus, em virtude da qual os seus escritos recebem fidedignidade divina.

“Toda a Escritura é divinamente inspirada, e é proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça” (II Tm. 3:16/ Almeida revista e corrigida). A palavra grega usada nesta passagem, theópneustos, não significa, de maneira nenhuma, “inspirado de Deus”. Esta frase é, antes, a tradução do latim divinitus inspirata, da Vulgata. A palavra grega nem sequer significa, como Almeida traduz, “divinamente inspirada”, embora esta tradução seja, por assim dizer, uma paráfrase rude, ainda que não enganadora, do termo grego, na linguagem teológica corrente daquele tempo. A expressão grega, porém, nada diz a respeito de inspiração ou de inspirar: fala apenas de respirar ou de respiração. Diz, sim, que é “exalado por Deus”, sendo pois o produto do “sopro” criador de Deus, e não que seja “inspirado por Deus”, isto é, que seja produto da “inspiração” divina nos seus autores humanos. Numa palavra, o que se declara nesta passagem fundamental é, simplesmente, que as Escrituras são um produto divino, sem qualquer indicação da maneira como Deus operou para as produzir. Não se poderia escolher nenhuma outra expressão que afirmasse, com maior saliência, a produção divina das Escrituras, como esta o faz.

O “sopro de Deus” é, nas Escrituras, o símbolo do Seu poder onipotente, o portador da Sua palavra criadora. No Salmo 33.6, lemos: “Os céus por sua palavra se fizeram, e, pelo sopro de sua boca, o exército deles”. É precisamente onde as operações de Deus são ativas, que esta expressão hebraica (“ruah” ou “Neshamah”) é usada para designar essas operações – o sopro de Deus é o fluxo irresistível do Seu poder. Quando Paulo declara que “toda a escritura” ou “cada escritura” é o produto do sopro divino, “é exalada por Deus”, afirma com toda a energia possível, que as Escrituras são o produto de uma operação especificamente divina.

Do mesmo modo, nosso Senhor tem, freqüentemente, ocasião de Se admirar do efeito insignificante produzido pela leitura das Escrituras, não porque tivessem sido examinadas com demasiada curiosidade, mas porque não foram examinadas com bastante anseio e com uma confiança suficientemente simples e forte em cada declaração que elas contêm. “Ainda não lestes esta Escritura” sequer? pergunta, ao citar o Salmo 118, para mostrar que a rejeição do Messias já fora dada a entender nas Escrituras (vd. Mc. 12.10: Mt. 2 1.42 altera a expressão para o equivalente e diz: “Nunca lestes nas Escrituras?”) E quando os judeus indignados se chegaram a Ele e se queixaram dos Hosanas com que as crianças, no Templo, O aclamavam, e lhe perguntaram: “Ouves o que estes estão dizendo?”, Jesus apenas lhes replicou (Mt. 21:16): “Sim: nunca lestes: Da boca de pequeninos e crianças de peito, tiraste o perfeito louvor?”.

O pensamento em que estão baseadas as passagens acima citadas é apresentado, abertamente, quando Ele dá a entender que a origem de todos os erros a respeito das coisas divinas é, justamente, a ignorância das Escrituras. “Errais”, declarou Ele aos seus perguntadores, em determinada ocasião importante, “não conhecendo as Escrituras” (Mt. 22.29); ou, como se encontra, talvez com mais força, na forma interrogativa, na passagem paralela, em outro Evangelho: “Não provém o vosso erro de não conhecerdes as Escrituras…?” (Mc. 12.24). É evidente que, aquele que conhece bem as Escrituras, não erra.

A confiança com que Jesus se baseava nas Escrituras, em todas as declarações que elas fazem, é ainda ilustrada numa passagem como a de Mateus 19.4. Certos fariseus chegaram perto d’Ele com uma pergunta acerca do divórcio, e Ele replicou-lhes da seguinte maneira: “Não tendes lido que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher e que disse?.. Portanto, o que Deus ajuntou, não o separe o homem”. O ponto a salientar aqui é a referência explícita de Gênesis 2.24, como tendo Deus como autor. “O Criador, desde o princípio, os fez… e que disse”. “Portanto, o que Deus ajuntou”. No entanto, esta passagem não nos dá uma sentença de Deus, registrada na Bíblia, mas apenas a palavra da própria Escritura, e só pode ser tratada como uma declaração de Deus na hipótese de que toda a Escritura é uma declaração de Deus. A passagem paralela em Marcos (10.5 e ss.), do mesmo modo, ainda que não tão explicitamente, apresenta esta passagem como sendo da autoria de Deus, citando-a como lei autorizada e falando da sua determinação como um ato de Deus. É interessante notar, de passagem, que Paulo, tendo oportunidade de citar a mesma Escritura (ver 1 Co. 6.16), cita-a também, explicitamente, como palavra divina: “Porque, como se diz, serão os dois uma só carne” – o diz, aqui, de acordo com um uso que mais adiante veremos, refere-se a Deus.

Portanto, é evidente que Jesus, citando ocasionalmente as Escrituras como sendo um documento com autoridade, baseia-se na atribuição a Deus da sua autoria. O Seu testemunho é que tudo quanto está escrito nas Escrituras é uma Palavra de Deus. Não podemos, tampouco, retirar a este testemunho a sua força, alegando que representa Jesus apenas nos dias de Sua carne, quando se poderia supor que Ele apenas refletia a opinião do Seu tempo e da Sua geração. O ponto de vista a respeito das Escrituras, que Ele apresenta, era também, sem dúvida, o ponto de vista do Seu tempo e da Sua geração, além de ser o Seu. Mas não há qualquer razão para duvidar que Ele o mantinha, não por ser o ponto de vista corrente, mas porque, no Seu conhecimento Divino-humano, sabia ser o verdadeiro: pois, até mesmo na Sua humilhação, Ele é testemunha fiel e verdadeira.

Em todo caso, devemos ter presente que era este o ponto de vista do Cristo ressurreto, como fora o do Cristo humilhado. Foi depois d’Ele ter sofrido e ressuscitado, no poder de Sua vida divina, que pronunciou “Ó néscios e tardos de coração…” àqueles que não crerem em tudo aquilo que está escrito nas Escrituras (Lc. 24.25); e que apresentou o simples “Assim está escrito”, como base suficiente para uma fé confiante (Lc. 24.46). Tampouco podemos minorar o testemunho de Jesus em relação à fidedignidade das Escrituras, interpretando-o como sendo não o Seu, mas dos seus discípulos, que o colocaram na Sua boca, ao relatarem as Suas palavras. Não só tudo é demasiado constante, minucioso, íntimo e, em parte, incidental, e, por isso encoberto, por assim dizer, para admitir tal interpretação mas de tal forma penetra todas nossas fontes de informação a respeito dos ensinos de Jesus, que dá a certeza de que vem na verdade, d’Ele mesmo. Não só pertence ao Jesus apresentado nos relatos evangélicos, como também ao Jesus das fontes mais antigas, que concordam com os relatos evangélicos, como se pode verificar, observando os incidentes em que Jesus cita as Escrituras, como divinamente autorizadas, registradas em mais que um dos Evangelhos (por exemplo, “Está escrito”- Mt. 4.4, 7, 10: Lc. 4.4. 8, 10: Mt. 11.10: Lc. 7.27: Mt. 21.13: Lc. 19.46, Mc. 11.17: Mt. 26.31; Mc. 14.21; “a Escritura” ou “as Escrituras: Mt. 19.4: Mc. 10.9: Mt. 21.42: Mc. 12.10: Lc. 20.17: Mt. 22.29: Mc. 12.24: Lc. 20.37; Mt. 25.56: Mc. 14.49; Lc. 24.44). Estas passagens bastariam para tornar evidente o testemunho de Jesus acerca das Escrituras, como sendo em todas as suas partes e em tudo o que diz, divinamente infalível.

As tentativas para se atribuir o testemunho de Jesus aos seus discípulos, apenas tem em seu favor o fato inegável de que o testemunho dos escritores do Novo Testamento tem precisamente o mesmo efeito que o testemunho d’Ele. Também eles falam superficialmente das Escrituras, usando esse tão significativo nome e citam-nas com um simples “Está escrito”, implicando que tudo quanto nelas está escrito, é divinamente autorizado. Do mesmo modo que a vida pública de Jesus começa com este “Está escrito” (Mt. 4.4), também a proclamação evangélica começa com um “Conforme está escrito” (Mc. 1.2): e do mesmo modo que Jesus procurou justificar a Sua obra com um solene “Assim está escrito, que o Cristo havia de padecer e ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia” (Lc. 24.46), também os apóstolos justificaram, solenemente, o Evangelho que pregavam, em todos os seus pormenores, com um apelo às Escrituras, “que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras” e “que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras” (1 Co. 15.3, 4; ver também At. 8.35; 17.3; 26.22; Rm. 1.17; 3.4, 10; 4.17; 11.26; 14.11; 1 Co. 1.19:2.9; 3.19; 15.45; GI. 3.10, 13; 4.22, 27).

Onde quer que levassem o Evangelho, era um Evangelho baseado nas Escrituras que proclamavam (At. 17.2; 18.24, 28); e encorajavam-se a si mesmos para provar a veracidade da mensagem com as Escrituras (ver At. 17.11). A santidade de vida que inculcavam, baseavam-na em exigências das Escrituras (ver 1 Pe. 1.16), e recomendavam a lei real do amor, que ensinavam com sanção divina (Tg. 2.8). Todos os detalhes do dever cristão, os sustentavam com um apelo às Escrituras (ver At. 23.5; Rm. 12.19). Vão buscar às Escrituras a explicação de circunstâncias nas suas vidas e dos acontecimentos em redor (ver Rm. 2.26; 8.36; 9.33; 11.8: 15.9, 21; II Co. 4.13). Do mesmo modo que o Senhor declarou que tudo quanto estava escrito nas Escrituras tem que se cumprir (ver Mt. 26.54; Lc. 22.37; 24.44), assim, também, os seus discípulos explicavam um dos acontecimentos mais espantosos que se deram nas suas experiências pessoais, mostrando que “convinha que se cumprisse a Escritura que o Espírito Santo proferiu anteriormente por boca de Davi…” (At. 1.16).

Afirma-se aqui, muito claramente, a razão para este constante apelo às Escrituras, de forma que basta que algo esteja contido nas Escrituras (ver 1 Pe. 2.6) para ter autoridade infalível. A Escritura tem de se cumprir, porquanto o que ela contém é a declaração feita pelo Espírito Santo, através do autor humano. O que as Escrituras dizem, é Deus quem o diz; e, assim, lemos afirmações tão notáveis como as seguintes: “Porque a Escritura diz a Faraó: Para isto mesmo te levantei (Rm. 9.17); “Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a Abraão: Em ti, serão abençoados todos os povos” (GI. 3.8). Estas citações não são apenas exemplos da simples personificação das Escrituras, o que, aliás, em si, é um uso bastante notável (ver Mc. 15.28; J0. 7.38, 42; 19.37; Rm. 4.3; 10.11: 11.2: Gl. 4.30: 1 Tm. 5.18; Tg. 2.23; 4.5 ss.), vocal, com a convicção expressa por Tiago (4.5) de que a Escritura não pode falar em vão. Mostram uma certa confusão, na linguagem corrente, entre “Escritura” e “Deus”, resultado de uma convicção profundamente arraigada de que a palavra da Escritura é a Palavra de Deus. Não foi a “Escritura” que falou a Faraó, ou deu a sua grande promessa a Abraão, mas sim Deus. Porém, “Escritura” e “Deus” estavam tão intimamente ligados na mente dos escritores do Novo Testamento, que podiam falar naturalmente da “Escritura” operar aquilo que as Escrituras dizem ter Deus operado. Era-lhes, porém, ainda mais natural falarem casualmente e atribuindo a Deus aquilo que as Escrituras dizem; e, assim, encontramos formas de expressão, como estas: “Assim, pois, como diz o Espírito Santo: Hoje, se ouvirdes a sua voz (Hb. 3.7, citando o Sl. 95.7); “Tu, Soberano Senhor… que disseste por intermédio do Espírito Santo, por boca de Davi, nosso pai, teu servo: Por que se enfureceram os gentios…” (At. 4.25, citando o Sl. 2.1); “E, que Deus o ressuscitou dentre os mortos para que jamais voltasse à corrupção, desta maneira o disse: E cumprirei a vosso favor as santas e fiéis promessas feitas a Davi. Por isso, também diz em outro Salmo: Não permitirás que o teu Santo veja corrupção” (At. 13.34,35, citando Is. 55.3 e Sl. 16.10), etc. As palavras colocadas, nestes casos, na boca de Deus, não são palavra de Deus registradas nas Escrituras, mas simplesmente palavras das Escrituras. Quando comparamos as duas espécies de passagens, em uma das quais se diz que a Escritura é Deus, enquanto que na outra se fala de Deus como se Ele fosse a Escritura, podemos verificar quão íntima era a identificação de ambas nas mentes dos escritores do Novo Testamento”. 

Fonte: http://www.bereianos.blogspot.com.br/search/label/B.B.%20Warfield#.UWCdPL-9IyE