20 agosto, 2008

Os Enganos sobre o Sagrado – Uma Síntese da Crítica ao Ramo "Clássico" da Fenomenologia da Religião e seus Conceitos-Chave

Frank Usarski[*]

1. Introdução

Há cerca de 30 anos circulava entre cientistas da religião alemães uma piada sintomática sobre a briga de métodos que marcava a disciplina nas universidades daquela época, não apenas na Alemanha, mas também em outros países.[1] A origem da brincadeira caiu rapidamente no esquecimento, mas, por seu teor, é obvio que seu autor não fazia parte da comunidade científica alemã. À pergunta "Por que os cientistas da religião na Alemanha deveriam urgentemente consultar um médico?" era dada a seguinte resposta irônica: "Porque eles sofrem de uma numinose."
A então "nova geração" de cientistas da religião alemães adotaram esse dito engraçado com prazer, uma vez que ele exprimia, de modo pragmático, a oposição crescente à Fenomenologia da Religião "clássica",[2] associada a autores como Nathan Söderblom (1866-1931), Geerardus van der Leeuw (1890-1950), Joachim Wach (1898-1955), Friedrich Heiler (1892-1967), Gustav Mensching (1901-1978), e, sobretudo, Rudolf Otto (1869-1937).[3] Otto foi o criador do neologismo alemão numinoso, termo derivado da palavra latina numen[4] e empregado para designar a forma mais "abstrata"[5] do sagrado, tema central e título da sua "obra magna".